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Capazes de Abril

Filhas da repressão, netas do obscurantismo.

Num Portugal vergado, o que poderiam sonhar?

Donas de um nome e de um corpo emprestado.

Num Portugal amordaçado, poderiam um dia gritar?

 

Foi o vento de Abril. Trazido pelo medo e pela revolta.

Foram os cravos. Pintados de vermelho e de fé.

Fizeram delas mais do que eram.

Tornaram-nas mais do que podiam ousar ser.

 

Ser inteiras. Ser iguais.

Capazes de ir, sem autorização.

Capazes de reagir, com obstinação.

Capazes de desobedecer, com satisfação.

 

Querem agora relegá-las.

Empobrecer a sua voz. Encolher os seus sonhos.

Quebrá-las dentro de quatro paredes.

Subjugá-las ao medo e à insegurança.

 

Mas elas não cabem no local de onde vieram.

Partem muros. Rasgam os céus. 

Porque não se prendem andorinhas. 

E não se acorrentam tempestades. 

 

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Todos, todos, todos

Agora, que precisamos de todos.

Todos, todos, todos.

Partiste, de pés descalços.

E de coração desassossegado.

Por um mundo onde se erguem muros.

Onde se fecham os olhos. Onde se cerram os punhos.

 

Tu, que deixaste os sapatos vermelhos no lado de fora.

Que te atreveste a entrar.

Que abriste as portas da Igreja e acolheste.

Tu, que na tua mesa ousaste colocar lugar para tantos. 

Alimentaste o migrante cansado.

E saciaste a sede de mulheres e homens que tinham sido relegados.

 

Tu, que abalaste as tradições.

E deixaste que o teu coração se enchesse de mundo.

De credos, etnias, línguas e cores.

Tu, que celebraste a diferença com um sorriso.

Foste certeza para quem nunca foi visto.

E consolo para quem nunca teve colo.

 

Tu, que te sentaste num trono sem vaidade.

Onde serviste. Acompanhaste. Ouviste. 

Onde rezaste por terras sem balas e bombas.

Tu, que foste simplicidade, ternura e coragem. 

Foste pão. Foste chão. 

E foste exemplo. 

 

Agora, que precisamos de todos.

Todos, todos, todos.

Agora, que precisamos tanto de ti. 

Partiste para junto do Pai.

Deixaste-nos mais sós.

E eu rezo para que, no céu, tu possas interceder.

 

Francisco, cuida de nós. 

 

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Foto: nega

Roda

Entrei na roda. Fui dançar.

E levei os pés descalços.

 

Não carreguei expetativas no bolso.

Simplesmente ofereci um corpo livre.

 

Deixei que alguém pousasse a sua mão na minha.

E logo dei e recebi. Fui céu e fui terra. 

 

Nas cem voltas da roda, descobri que as mãos são equilíbrio.

E que os pés são expressão.

 

Foi num círculo que dancei.

E fiz memória do chão.

 

Ergui templos no centro do peito.

Plantei alegria. Semeei ao som da música.

 

Girei presa por uma linha. 

Pelas mãos quentes que me levaram. 

 

O corpo ouviu o tambor e o som da água. 

Fazendo de todas, o centro de tudo. 

 

Entrei na roda. E ali fiquei.

A saborear o movimento que nasceu no meu coração.

 

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Escreve quem não tem medo

Escreve quem não tem medo.

De fazer do texto, porta aberta para o coração.

De expor fragilidades, crenças e anseios.

Escreve quem age por amor. E por coragem.

Porque não consegue conter a palavra dentro de si. 

Porque não consegue viver sem a riqueza do livre pensamento.

Escreve quem se inebria com a textura do papel e a essência do carvão.

Quem imprime o medo no papel. E quem traça os sonhos com tinta colorida.

 

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Foto: Loh Weytor

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