O estado das coisas
Dança o mundo de forma estranha.
O certo torna-se vacilante.
As convicções são vendidas.
Selam-se acordos inesperados.
Quebram-se tratados indissolúveis.
Transforma-se a empatia em hedionda descortesia.
Nasce o ódio do amor.
Brota o desrespeito da retidão.
Homens justos são repudiados.
Traçam-se novos mapas à força.
Treme a terra ao som do desnorte.
Grita-se a tirania e enterra-se a razão.
Pinta-se de negro o antigo verde.
O céu azul já não deslumbra.
Deitam-se os santos nas nuvens a chorar.
Enquanto a música de Carnaval continua a tocar.
E a fé, encerrada num corpo desgastado, resiste à morte.
Foto: Mehran Biabani