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Cuidar sem ser cuidada

Segue rápida de pano na mão.

Cuida dele. E dele. E dele. E dele. Nunca de si.

Cuida de quem está doente.

E também de quem sempre foi cuidado e nunca foi capaz de atender.

Os ponteiros rodam, os dias passam.

Ela responde a todas as necessidades. 

Vive de acordo com as emergências dos outros.

Saúde. Higiene. Roupa. Loiça. Comida. 

Ela murcha e enfraquece. 

Não troca a roupa preta e as rugas vaidosas exibem-se.

O olhar não brilha e o sorriso esmorece.

Ela grita calada.

Sem nunca deixar de zelar.

Ninguém a ouve. Ninguém a acode. 

Chora envergonhada e em silêncio.

Surgem sugestões e brotam opiniões.

Ela desespera e enlouquece. 

Não há mãos que a ajudem a carregar o peso. 

Dos corpos que ela não se preparou para cuidar.

Das palavras que ela não merece ouvir.

Das dores que ela não merece carregar.

Da vida que ela sonhou e que teve de abandonar.

 

Há alguém que - realmente - a veja e a escute?

 

 Um abraço a todos os cuidadores que, com coragem e amor, se esquecem tantas vezes de si próprios para cuidar dos outros. Que possam ser vistos, ouvidos e acolhidos. 

 

ACM. Fotografia para blog e website.png

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