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Roda

Entrei na roda. Fui dançar.

E levei os pés descalços.

 

Não carreguei expetativas no bolso.

Simplesmente ofereci um corpo livre.

 

Deixei que alguém pousasse a sua mão na minha.

E logo dei e recebi. Fui céu e fui terra. 

 

Nas cem voltas da roda, descobri que as mãos são equilíbrio.

E que os pés são expressão.

 

Foi num círculo que dancei.

E fiz memória do chão.

 

Ergui templos no centro do peito.

Plantei alegria. Semeei ao som da música.

 

Girei presa por uma linha. 

Pelas mãos quentes que me levaram. 

 

O corpo ouviu o tambor e o som da água. 

Fazendo de todas, o centro de tudo. 

 

Entrei na roda. E ali fiquei.

A saborear o movimento que nasceu no meu coração.

 

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Poesia é casa

Poesia é romance. 

Alegria que transborda.

Dor que não cala.

Palavra riscada.

Papel amassado.

Janela aberta.

Rua agitada.

Horizonte sem fim.

 

Poesia sou eu.

Tu. Os outros.

Letras que não cabem no peito.

Paixão que o beijo não mata.

Encontro sublime.

Direção. 

Caminho.

E casa. 

 

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Foto: Valentin Salja

Sopro na alma

Perco-me nessa imensidão que é o sentir.

Na liberdade de observar.

Na magia de escutar.

É no mundo que eu me encontro.

Depois de rodar e rodopiar.

Cair, desabar e desmoronar.

Galgar, alcançar e festejar. 

 

São os outros que me dão sinal de vida.

Através da ponte entre mim e o mundo.

Entre o mundo dos outros e o meu.

Nesse sentir que aquece.

Nesse sentir que assombra.

Que acalma. Que agita.

Que enlouquece. Que surpreende.

 

Tenho sede do mundo.

Tenho fome dos outros.

Da beleza. Da fealdade.

Do que é intenso. Do que é ligeiro.

Do que faz agitar a pele.

Paixão avassaladora.

Ou sopro na alma.

 

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Foto: Michelle

Envergonhada

Perguntam: és sempre tu?

Aquela que sente e escreve sobre liberdade.

Sobre amor. Sobre raiva.

 

Perguntam: como és capaz?

De desbravar a folha em branco.

Pintá-la de rosa. Riscá-la de preto.

 

Perguntam: não tens vergonha?

De escrever atrevidamente sobre tudo.

De inquietares os outros.

 

Respondo: sou sempre eu - em todas as linhas.

Tão capaz e tão incapaz.

Envergonhada por só me encontrar verdadeiramente quando escrevo.

 

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A culpa é minha?

Que culpa tenho eu de me apaixonar por aí?

Pelas letras gravadas em paredes.

Pela flor bizarra de cor alegre.

Pelo gesto insubmisso que grita. 

 

Deixo fugir um sorriso em cada canto.

Quando vejo uma criança deslumbrada. 

Uma forma inesperada na calçada.

Ou um beijo que cala as dúvidas.

 

Que explicação posso eu dar se me perco em cada rua?

Presa nos olhares de quem passa.

Fascinada pelas rugas de quem espera. 

Curiosa pelas histórias que as vozes contam. 

 

Como posso eu explicar que sou incapaz de não viver?

De não gravar a beleza do que encontro e surpreende. 

De não revelar o mundo que inspira os meus sentidos.

De não respirar o gracioso, o complexo, o simples ou o fugaz. 

 

Culpada sou.

Por sentir. Por escrever. 

 

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Foto:  Mariano Nocetti

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